sábado, 3 de maio de 2008

Virgília



Divindade da morte e guardiã dos cemitérios. O seu grito causa dor aos ouvidos dos moribundos, anunciando o fim. Dizem ser um festejo. Sempre permanecia no mesmo local. Até mesmo no dia em que o lugar encheu-se do choro dos pais do menino morto. Nascimento prematuro. De longe, ela vigiava o sofrimento dos visitantes. Estava acostumada. Inimiga dos pombos brancos. Tentava espantá-los com o seu vôo cortante. Parecia furiosa ou tentava proteger o menino? Escondeu-se por trás das árvores. Camuflava-se para assistir ao acontecimento. Despedidas concluídas. A última imagem dele foi guardada por cada um. Saudades eternas. Desceram o caixão. Flores para sempre. O frio do solo úmido arrepiava o pêlo da mãe do menino. Escuridão no abismo. Onde seu corpo estaria até confundir-se com a terra. Alguns esqueceram a curiosa disfarçada de planta, que desceu do esconderijo. Posou sobre o túmulo, como se fizesse uma prece. Permaneceu estática, mesmo após ouvir o grito do menino sepultado, que acabara de retornar do mundo dos mortos.


David Cid

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