sábado, 3 de maio de 2008

A imagem

Finalmente ele foi encontrado, morto, há três quadras da delegacia, sobre a calçada coberta de folhas amareladas, desgastadas pelas intempéries do tempo. Sobre ela um tapete de outono formando abrigo às pragas noturnas. Uma multidão posicionou-se próxima ao cadáver para lamentar aquela piedade falsamente respeitosa que a tragédia costuma inspirar. As marcas de balas eram bem visíveis em seu peito esquerdo. Mãos entre as pernas encolhidas, boca ensangüentada manchando a calçada, dedos tortos e braços fortes e tatuados. Ele acabara de ser assassinado. Eu, finalmente, saberia quem matou a jovem garota daquela rua , há aproximadamente três anos. Levantei. Encostei um banco bem próximo para visualizar melhor o rosto do assassino. Surpreendentemente, a imagem começou a deformar-se diante dos meus olhos. Não conseguia mais ouvir as vozes. As pessoas foram desaparecendo uma após outra. Apenas consegui ouvir um forte barulho agudo por trás da imagem deformada. De repente, tudo sumiu. Tudo escureceu. A raiva tomou conta de mim. Levantei. Desliguei da tomada. Sai de casa e, por fim, joguei a televisão no meio da rua para que um caminhão a destruísse por completo.


David Cid

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