sábado, 3 de maio de 2008

Ex-branco

- Faz isso não que o cão atenta!
A faca, dando voltas no ar, afiada, refletia a sua alegria.
- Solta essa faca, menino danado!
A faca não parava. Madeira escura na ponta dos dedos.
A mãe, nessa hora, na cozinha, distraída, olhando para o teto com a mão na cabeça, tentava lembrar-se da receita do bolo mole. O menino à mesa balançava os pés no ar. Frutas secas, natureza morta, de mentira como ele mesmo falava. O corpo mole encostou-se, após a vertigem, lentamente no chão ex-branco, manchado pelo líquido que escorreu por cada brecha do banco escuro.


David Cid

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