sábado, 3 de maio de 2008

Ao Infinito preenchido


Seria exagero pensar assim? Ela pensou. Por trás da porta branca, o ponto de partida. O início de tudo. Sim, ela também estava ansiosa. Apenas esperava a hora de entrar. Ou sair? A luz penetrou vagarosamente em seu quarto escuro. Sim, ela estava assustada. Ouviu um barulho intenso do outro lado. Não entendeu. Vozes ou gritos? Olhos fechados, mãos sobre o peito, pernas unidas, moveu-se inconscientemente. Sentiu os pés encharcados, o corpo encharcado, sentiu nojo de si. O quarto quase vazio escondeu, por um tempo, sua triste solidão. Medo ou desespero? Eram gritos! Sim, eram gritos! Conseguiu decifrar. Gritos de dor! Gritos de mulher! Ela pensou, ela surgiu. De repente, existiu. Surgiu! Surgiu como um enigma e, ao mesmo tempo, como uma esfinge. Sim, era uma esfinge carregada de mistérios. Seu corpo era o enigma. Ou uma charada? Bastava a ela descobrir e encontrar, portanto, a resposta de “quem sou eu?” ou de “como eu sou?”. Sim, ela estava também curiosa. Então, enfim, anunciaram a sua entrada-saída, que não poderia deixar de ser triunfal. A luz difratou-se por todos os espaços da porta, fazendo-a escurecer, como um eclipse solar. Esse foi o anúncio de sua chegada ao Infinito preenchido. A porta abriu, os pés tocaram o ar do corredor descontínuo e o corpo ocupou o exterior. Passos covardes e elegantes visitaram aquela realidade quadrada e guardada por trás do ponto de partida: um espaço de todos os tipos, de todas as cores, de todas as formas, de todas as raças e de todos os povos.


David Cid

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