sábado, 3 de maio de 2008

Reflexo

Encontrou o íntimo de seu olho. Diante do espelho espatifado, a imagem impressa por trás do vidro. Ajoelhou-se. Lágrimas ocuparam o quarto vazio. Após escorregaram pelo rosto, saltaram. Ele mesmo não entendeu o porquê. A certeza de seu futuro tornou-se passado. A decepção escondia-se por trás da orla das pálpebras paradas, que lutavam contra cada piscar de olho. As manchas escuras sob os cílios expressavam o sofrimento da renúncia. O quarto escureceu, o mundo escureceu. A vida esquivou-se furtivamente. Ainda podia sentir a voz dela ao telefone dando-lhe a notícia confusa, inesperada, inaceitável, que destruiu a sua paz, a sua alegria, o seu sábado. Talvez o seu mês, o seu ano, e por que não a sua esperança? Até quando? O quando é um grande mistério criado, uma mistura de sonho e realidade. Seus pensamentos penetraram em sua alma, levando-o a ver o seu mundo inconsciente por trás do universo-vida. Tentou encontrar o erro. Em vão. Qual? Não sabia. E por que não uma nova chance? Não! Não! O cansaço gritou desesperado. Os úmidos fios de cabelo repousavam sobre o piso seco. Frio ou medo? Medo! Medo de prosseguir. A porta, à sua frente cinza e atrás amarela, era o fim do corredor próximo, por onde alguém andou antes de abri-la, entrar no quarto, unir os cacos como um quebra-cabeça, refazer-lhe a imagem, estender-lhe a mão e, por fim, erguê-lo.


David Cid

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